desolador e esclarecedor (versão final)
É desolador e esclarecedor
O cachorro roubando do velho
O resto da barra de cereal
A vontade de misturar bebidas
Para dizer umas verdades
A corrida de fórmula 1
Sem nenhum grave acidente
É desolador e esclarecedor
O dente roxo de vinho tinto
O dedo amarelo de nicotina
O vermelho daquilo
Que não é sangue
O azul daquilo
Que não é céu
O verde daquilo
Que não é mato.
É desolador e esclarecedor
O lacre do iogurte
Não abrir com um simples toque
Uma droga de um desenho animado
Não conter violência por ser educativo
Assistir esta droga
Só para conhecer o final
É desolador e esclarecedor
O resultado da loteria
O resultado de uma pesquisa no google
Sobre você mesmo
O resultado de um teste de gravidez
O resultado de um exame de vista
É desolador e esclarecedor
Reencontrar o amigo de infância
Que um dia o traiu
Reencontrar o primeiro amor
Que não sabe quem você é
E nunca irá saber
Reencontrar o primeiro livro
Que você leu na vida
O primeiro verso que mudou a sua vida
Mas que agora, estranhamente
Não faz tanta diferença
É desolador e esclarecedor
A tendinite do pianista
A amnésia de um poeta
O transtorno obsessivo
De conferir se a porta do banheiro
Esta realmente fechada
O prato cheio de uma anoréxica
É desolador e esclarecedor
Uma grávida chorando
Na fila do supermercado
Alguém chamando pelo pai
No meio de uma festa junkie
Uma senhora mostrando a foto dos netos
Hoje com mais de trinta anos.
.
Blues Curitibano
terça-feira, novembro 28, 2006
segunda-feira, novembro 27, 2006
Paris, Texas
revendo o clássico do Wim Wenders, me veio uma idéia para um poema. Havia esquecido como a Nastassja Kinski é bonita. Havia esquecido do rítmo desolador do roteiro. têm coisas que devem ser revisitadas todo ano.
atropelamento
(para Sam Shepard)
da janela uma luneta:
alguém procura uma lua,
uma estrela, um brilho
qualquer no quarto ou na rua.
na canaleta do expresso
um guri de bicicleta
abre os seus braços e grita
"sem as mãos" durante um metro.
ele me atropela ao ser
atropelado e eu durmo
acordado sem querer
e o cara da luneta
que me queria pelado
chora comigo um choro
bêbado e desgovernado.
revendo o clássico do Wim Wenders, me veio uma idéia para um poema. Havia esquecido como a Nastassja Kinski é bonita. Havia esquecido do rítmo desolador do roteiro. têm coisas que devem ser revisitadas todo ano.
atropelamento
(para Sam Shepard)
da janela uma luneta:
alguém procura uma lua,
uma estrela, um brilho
qualquer no quarto ou na rua.
na canaleta do expresso
um guri de bicicleta
abre os seus braços e grita
"sem as mãos" durante um metro.
ele me atropela ao ser
atropelado e eu durmo
acordado sem querer
e o cara da luneta
que me queria pelado
chora comigo um choro
bêbado e desgovernado.
sábado, novembro 25, 2006
Lindsey Rocha
E ontem tive o prazer de ouvir na voz da própria Lindsey os poemas do seu livro "Nervuras do silêncio". Muito bom mesmo. Sem dúvida, este é um dos grandes livros de poemas da cidade. Só que o que eu mais gostei no livro foi a dedicatória completamente poética que a Lindsey fez pra mim. Valeu guria! Saiba que você ganhou um amigo.
Dedicatória da Lindsey
A você,
Alexandre,
pelo silêncio precioso
que permeia as novas
amizades.
beijos
Lindsey Rocha
24/11/06
quinta-feira, novembro 23, 2006
Legião Urbana
Da sacada vejo quieto
Um bando de adolescentes
Com um violão tocando alto
Coisas da Legião Urbana
E daqui eu me pergunto
Sobre a condição humana
Exercícios de linguagem
Idéias pra quem reclama
Será que eles me entendem
Sussurrando um mantra sujo
Rogando praga no escuro
Será que eles entendem que
Estou parado bem no fluxo
De pessoas inocentes
Atirando
para todos os lados?
Da sacada vejo quieto
Um bando de adolescentes
Com um violão tocando alto
Coisas da Legião Urbana
E daqui eu me pergunto
Sobre a condição humana
Exercícios de linguagem
Idéias pra quem reclama
Será que eles me entendem
Sussurrando um mantra sujo
Rogando praga no escuro
Será que eles entendem que
Estou parado bem no fluxo
De pessoas inocentes
Atirando
para todos os lados?
sexta-feira, novembro 17, 2006
Do tipo que se apaixona pela mais cobiçada do colégio.
Não consegui segurar: chorei no final. E no final eu não queria segurar mais lágrima alguma, por que se eu segurasse, era capaz de transbordar no fígado e no estômago a fúria daquele texto (muito embora, eu tenha bebido todas depois, sem misturar é claro). Eu falo de “Homens, Santos e Desertores” do Mario Bortolloto . Tive que disfarçar o olho vermelho, antes de dar um “oi” para o Marcelo e para o Marião depois do espetáculo. Explico.
Esta é uma peça que nos joga na cara o “inferno” do mundo contemporâneo e que ao mesmo tempo nos sussurra ao pé do ouvido “se não agüenta, por que veio?” Dois personagens: um alcoólatra já sem esperança alguma e um jovem sem perspectiva. Os dois travam uma batalha de nervos, destilando uma série de outros personagens podres e completamente desajustados. É a mãe que dá para todo o bairro, o pai que fugiu de casa, o padre pedófilo, o padre alcoólatra, o “bombadinho” descerebrado do colégio (que pode, neste exato instante, estar comendo a sua mãe), a mãe que se mata com um tiro. Enfim, toda uma galeria de figuras bizarras e dolorosamente humanas a esbarrar sem pena na frágil sensibilidade dos dois coadjuvantes. Mas se o mundo não é isto, um grande freak show humano com lanças de aço apontadas para as nossas cabeças, o que é então? Um conto de fadas? Um final feliz? Não.
É justamente neste ponto que a peça mais me tocou – não existe saída. O mundo é assim e enfrente-o sem autopiedade, sem se fazer de coitadinho, sem se acomodar na futilidade prazerosa que a artificialidade nos impõe dia após dia. E o Marião nos joga isto na cara durante toda a peça (entende por que eu saí meio atormentado depois?). Ele fala sobre alcançar o posto de “santidade”, ou seja, se assumir um excluído e dar a cara pra bater neste mundão velho de guerra. Não adianta se iludir: as pessoas não são do jeito que você pensa e ninguém vai passar a mão na sua cabeça quando a corda apertar no pescoço. Aliás, você não é mais um adolescente, vestido com uma camiseta do Metallica, como todos os outros "coleguinhas" da sua idade...
...O que? Você discorda? Ah, então você é do tipo que ainda se apaixona pela mais cobiçada do colégio, é isto? Só tenho uma coisa pra dizer para dizer pra você: veja, não só uma, como duas vezes "Homens, Santos e Desertores".
HOMENS, SANTOS E DESERTORES
Texto : Mário Bortolotto
Direção : Fernanda D´Umbra
Com Mário Bortolotto e Gabriel Pinheiro
No Auditório Glauco Flores de Sá Brito (Mini-Auditório do Teatro Guaíra)
Quinta a Sábado : 21h
Domingo : 20h
Ingressos : R$ 20,00
R$ 10,00 (Estudantes, Aposentados e Classe Teatral)
Não consegui segurar: chorei no final. E no final eu não queria segurar mais lágrima alguma, por que se eu segurasse, era capaz de transbordar no fígado e no estômago a fúria daquele texto (muito embora, eu tenha bebido todas depois, sem misturar é claro). Eu falo de “Homens, Santos e Desertores” do Mario Bortolloto . Tive que disfarçar o olho vermelho, antes de dar um “oi” para o Marcelo e para o Marião depois do espetáculo. Explico.
Esta é uma peça que nos joga na cara o “inferno” do mundo contemporâneo e que ao mesmo tempo nos sussurra ao pé do ouvido “se não agüenta, por que veio?” Dois personagens: um alcoólatra já sem esperança alguma e um jovem sem perspectiva. Os dois travam uma batalha de nervos, destilando uma série de outros personagens podres e completamente desajustados. É a mãe que dá para todo o bairro, o pai que fugiu de casa, o padre pedófilo, o padre alcoólatra, o “bombadinho” descerebrado do colégio (que pode, neste exato instante, estar comendo a sua mãe), a mãe que se mata com um tiro. Enfim, toda uma galeria de figuras bizarras e dolorosamente humanas a esbarrar sem pena na frágil sensibilidade dos dois coadjuvantes. Mas se o mundo não é isto, um grande freak show humano com lanças de aço apontadas para as nossas cabeças, o que é então? Um conto de fadas? Um final feliz? Não.
É justamente neste ponto que a peça mais me tocou – não existe saída. O mundo é assim e enfrente-o sem autopiedade, sem se fazer de coitadinho, sem se acomodar na futilidade prazerosa que a artificialidade nos impõe dia após dia. E o Marião nos joga isto na cara durante toda a peça (entende por que eu saí meio atormentado depois?). Ele fala sobre alcançar o posto de “santidade”, ou seja, se assumir um excluído e dar a cara pra bater neste mundão velho de guerra. Não adianta se iludir: as pessoas não são do jeito que você pensa e ninguém vai passar a mão na sua cabeça quando a corda apertar no pescoço. Aliás, você não é mais um adolescente, vestido com uma camiseta do Metallica, como todos os outros "coleguinhas" da sua idade...
...O que? Você discorda? Ah, então você é do tipo que ainda se apaixona pela mais cobiçada do colégio, é isto? Só tenho uma coisa pra dizer para dizer pra você: veja, não só uma, como duas vezes "Homens, Santos e Desertores".
HOMENS, SANTOS E DESERTORES
Texto : Mário Bortolotto
Direção : Fernanda D´Umbra
Com Mário Bortolotto e Gabriel Pinheiro
No Auditório Glauco Flores de Sá Brito (Mini-Auditório do Teatro Guaíra)
Quinta a Sábado : 21h
Domingo : 20h
Ingressos : R$ 20,00
R$ 10,00 (Estudantes, Aposentados e Classe Teatral)
quinta-feira, novembro 16, 2006
O poeta Rodolfo Jaruga teve a idéia de juntar os poetas aqui da nossa cidade para que eles exercitassem à sério a forma do soneto. Vários deles já estão participando (Rodrigo Madeira, Jaques Brand, Paulo Bearzoti...). O resultado disto você encontra no site Sonetos Curitibanos. Eu já estou preparando alguns sonetos para mandar pra lá. Fora isto, Jaruga também me dedicou este belo poema de cair o queixo. Valeu Rodolfo!
PAISAGEM FRANCA
Para Alexandre França
Caminha a multidão coesa, sem
pressa, pela rua xv. As cinzas
espessas da garoa eterna cobrem
a minha roupa exausta. Um pouco antes
que anoiteça, quando os olhos não lêem
as entrelinhas da vida, porém
advinham a morte nos vultos que
atravessam a rua, resoluto,
eu saco o meu revólver inquieto
do casaco e aos ares prendo fogo.
Os vultos se desesperam e fogem
num tumulto semelhante ao de meu
polaco peito. Mas o vazio segue
insepulto e ninguém vem me acalmar.
Rodolfo Jaruga
Curitiba, 15 de novembro de 2006.
terça-feira, novembro 14, 2006
Texto do Leprevost que estará no meu site
Numa bosta de luau promovido por garotinhos cagões
Não é que ele só queira escrever umas canções tristes. O fato é que ele só consegue fazer dessa maneira, com tristeza. Sei que ele era a fim de dar porrada num bando de play-boys babacas que freqüentavam o cursinho pré-vestibular do Colégio Positivo. Sei do desprezo dele pelas patys que circulam ali pelo Shopping Cristal. Então é por isso que ele derruba a munheca naquele violão. Por isso e porque ele adora a noite curitibana com toda sua neblina característica, com todas aquelas pessoas vestidas com sobretudo preto bebendo vinho Campo Largo e fazendo merda no calçadão do Largo da Ordem. Só que o cara não é tosco, ele estudou música clássica, ele estudou violão com o maestro Waltel Branco, caralho, não foi qualquer um que teve esse privilégio. Só que mesmo assim ele prefere enfiar a porrada naquele violão, o mesmo que presenciei uma vez voar e passar raspando por uma fogueira igualmente nervosa numa bosta de luau promovido por garotinhos cagões lá na praia do Condomínio Atami. Naquele dia o maluco vomitou sangue, literalmente, e a partir de então minha má influência havia tomado conta da sua vida. Quer saber? Foda-se. Com toda areia e outras tantas sujeiras ele continuou tocando aquele violão desesperado. Meses depois o violão continuava comprometido, saía areia de tudo que é lugar. Acho que aquele violão nunca mais foi limpo, acho que ninguém teve a manha de passar um paninho nele. Porra, tô querendo dizer o seguinte: Que bom que o violão do França foi sujo por muito tempo. Que bom que a voz dele é uma voz meio estragada já naturalmente e piorada com maços de Malboro e garrafas de conhaque. Foi você, Bróder, que me ensinou que a solidão não mata, só dá a idéia. Isso bem antes do teu disco existir. O que posso dizer? Teu álbum é belo e triste, belo porque triste. E quem quiser degustá-lo tem que saber que por trás duma estudada docilidade virá o veneno sinistro corroendo a garganta, incendiando a traquéia, revirando o estômago. E como resultado final, inevitavelmente sentirá os olhos nublarem.
Luiz Felipe Leprevost
Rio de Janeiro - Baixo Leblon
07/11/2006 - 00:28 horas
Numa bosta de luau promovido por garotinhos cagões
Não é que ele só queira escrever umas canções tristes. O fato é que ele só consegue fazer dessa maneira, com tristeza. Sei que ele era a fim de dar porrada num bando de play-boys babacas que freqüentavam o cursinho pré-vestibular do Colégio Positivo. Sei do desprezo dele pelas patys que circulam ali pelo Shopping Cristal. Então é por isso que ele derruba a munheca naquele violão. Por isso e porque ele adora a noite curitibana com toda sua neblina característica, com todas aquelas pessoas vestidas com sobretudo preto bebendo vinho Campo Largo e fazendo merda no calçadão do Largo da Ordem. Só que o cara não é tosco, ele estudou música clássica, ele estudou violão com o maestro Waltel Branco, caralho, não foi qualquer um que teve esse privilégio. Só que mesmo assim ele prefere enfiar a porrada naquele violão, o mesmo que presenciei uma vez voar e passar raspando por uma fogueira igualmente nervosa numa bosta de luau promovido por garotinhos cagões lá na praia do Condomínio Atami. Naquele dia o maluco vomitou sangue, literalmente, e a partir de então minha má influência havia tomado conta da sua vida. Quer saber? Foda-se. Com toda areia e outras tantas sujeiras ele continuou tocando aquele violão desesperado. Meses depois o violão continuava comprometido, saía areia de tudo que é lugar. Acho que aquele violão nunca mais foi limpo, acho que ninguém teve a manha de passar um paninho nele. Porra, tô querendo dizer o seguinte: Que bom que o violão do França foi sujo por muito tempo. Que bom que a voz dele é uma voz meio estragada já naturalmente e piorada com maços de Malboro e garrafas de conhaque. Foi você, Bróder, que me ensinou que a solidão não mata, só dá a idéia. Isso bem antes do teu disco existir. O que posso dizer? Teu álbum é belo e triste, belo porque triste. E quem quiser degustá-lo tem que saber que por trás duma estudada docilidade virá o veneno sinistro corroendo a garganta, incendiando a traquéia, revirando o estômago. E como resultado final, inevitavelmente sentirá os olhos nublarem.
Luiz Felipe Leprevost
Rio de Janeiro - Baixo Leblon
07/11/2006 - 00:28 horas
segunda-feira, novembro 13, 2006
Imperdível - Marcelo Montenegro amanhã no Wonka Bar
E amanhã, para quem gosta de poesia, o grande poeta Marcelo Montenegro estará apresentando o seu trabalho dentro do projeto "porão loquax", junto com Rubens K no baixo e Carlão na guitarra. O evento começa às 22:00 horas e como eu sempre digo, a minha sombra já está esperando a poesia do Marcelo lá no Wonka bar (rua trajano reis, 326). APAREÇAM
sexta-feira, novembro 10, 2006
Leprevost no Rio
Para o pessoal aqui de Curitiba que está com saudades do mamute mutante mais querido das redondezas da Cruz Machado, aqui vai um vídeo do Leprevost detotando um clássico dos iconoclastinhas: "variação bipolar do humor" (que também está no cd "a solidão não mata, dá idéia" que será lançado em breve)
Variação bipolar do humor
(Luiz Felipe Leprevost/ Alexandre França)
Do alto do Corcovado
O Cristo se atirou
Rachou a cara no asfalto
Aliviado sangrou
Não era fé que ele tinha
Não era nem pela paz
Também não era amor
- então o que ele tinha?
Variação bipolar do humor.
Picharam que ele era bicha
No altar de pedra sabão, irmão
Era uma rixa antiga
Entre o pecado e o perdão.
Para o pessoal aqui de Curitiba que está com saudades do mamute mutante mais querido das redondezas da Cruz Machado, aqui vai um vídeo do Leprevost detotando um clássico dos iconoclastinhas: "variação bipolar do humor" (que também está no cd "a solidão não mata, dá idéia" que será lançado em breve)
Variação bipolar do humor
(Luiz Felipe Leprevost/ Alexandre França)
Do alto do Corcovado
O Cristo se atirou
Rachou a cara no asfalto
Aliviado sangrou
Não era fé que ele tinha
Não era nem pela paz
Também não era amor
- então o que ele tinha?
Variação bipolar do humor.
Picharam que ele era bicha
No altar de pedra sabão, irmão
Era uma rixa antiga
Entre o pecado e o perdão.
quinta-feira, novembro 09, 2006
pirraça
estou com uma vontade
de dar uns tiros no ar
para acalmar a multidão
e me embrenhar no seu colo
babando mágoa de criança
e de me arrastar pelo seus pêlos
fazendo gestos obscenos
para os que ficam para trás.
uma vontade de enfileirar
todos os suicidas que pretendem se atirar
de um prédio e me divertir
empurrando um por um
ou melhor, me divertir dando motivos suficientes
para que eles finalmente pulem.
uma vontade de voltar a dar tiros no ar
mesmo não havendo mais multidão
só para que alguém me acalme.
estou com uma vontade
de dar uns tiros no ar
para acalmar a multidão
e me embrenhar no seu colo
babando mágoa de criança
e de me arrastar pelo seus pêlos
fazendo gestos obscenos
para os que ficam para trás.
uma vontade de enfileirar
todos os suicidas que pretendem se atirar
de um prédio e me divertir
empurrando um por um
ou melhor, me divertir dando motivos suficientes
para que eles finalmente pulem.
uma vontade de voltar a dar tiros no ar
mesmo não havendo mais multidão
só para que alguém me acalme.
quarta-feira, novembro 08, 2006
gripe II
entre
o emparedamento
de prédios partidos,
depredados e pichados.
entre
o guarda-roupa mofado
e úmido.
entre
livros velhos,
desfolhados, despetalados,
grifados com caneta piloto.
Eu ouço a minha música,
a melodia líquida
da minha circulação
e escuto a rua
aplaudir com seus apitos,
gritos e gestos
o réquiem rouco que dedilho
em poucos acordes azuis
derramados do meu umbigo.
Por dormir neste asfalto,
por deixar mensagens de amor neste asfalto,
por ser assaltado neste asfalto,
eu percorro o cárcere
dos órgãos do meu corpo
e o que eu encontro é o sol
cinza.
Estou suado
e com vontade de mergulhar neste asfalto.
Estou vazio
e com vontade
de que alguém
mergulhe em mim.
entre
o emparedamento
de prédios partidos,
depredados e pichados.
entre
o guarda-roupa mofado
e úmido.
entre
livros velhos,
desfolhados, despetalados,
grifados com caneta piloto.
Eu ouço a minha música,
a melodia líquida
da minha circulação
e escuto a rua
aplaudir com seus apitos,
gritos e gestos
o réquiem rouco que dedilho
em poucos acordes azuis
derramados do meu umbigo.
Por dormir neste asfalto,
por deixar mensagens de amor neste asfalto,
por ser assaltado neste asfalto,
eu percorro o cárcere
dos órgãos do meu corpo
e o que eu encontro é o sol
cinza.
Estou suado
e com vontade de mergulhar neste asfalto.
Estou vazio
e com vontade
de que alguém
mergulhe em mim.
sexta-feira, novembro 03, 2006
poema da semana
não escreve aqui quem sabe de tudo
o que você quer, o que você sabe, nada
apenas quero daquele que é mudo
dizer o que acha dessa palhaçada
o ritmo vale mais que a métrica e a rima
pois a métrica é salão e a rima cozinha
tudo que a inteligência dizima
é fato a mim e idéia de fato minha
você, que é devorador da comida alheia
que se serve do talento de outro prato
preste atenção: seu sangue não vai mudar de veia
se você não criar pra você um novo braço
Marcos Prado
não escreve aqui quem sabe de tudo
o que você quer, o que você sabe, nada
apenas quero daquele que é mudo
dizer o que acha dessa palhaçada
o ritmo vale mais que a métrica e a rima
pois a métrica é salão e a rima cozinha
tudo que a inteligência dizima
é fato a mim e idéia de fato minha
você, que é devorador da comida alheia
que se serve do talento de outro prato
preste atenção: seu sangue não vai mudar de veia
se você não criar pra você um novo braço
Marcos Prado
quinta-feira, novembro 02, 2006
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