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domingo, agosto 27, 2006

Os iconoclastinhas em MP3


e para quem não pode conferir os fabulosos e extraordinários Iconoclastinhas no Kappele Pub, o Alexandre Nero disponibilizou algumas raríssimas gravações da incomparável dupla em seu auge. Sempre lembrando: os Iconoclastinhas não concedem entrevistas.

terça-feira, agosto 22, 2006

Gabriela Marcondes

sobremesa de eternidade

poetas são abutres
dos próprios desejos
mastigam com binóculos
os próprios medos

gabriela marcondes


para ler mais alguns poemas da Gabriela, entre no site http://www.germinaliteratura.com.br/gmarcondes.htm

segunda-feira, agosto 21, 2006

álbum de figurinhas

ele diz - não compro mais a figura do marginal bêbado

eu digo - e eu não compro mais a figura do gênio poliglota

ele diz - não compro mais a figura do doente depressivo

eu digo - e eu não compro mais a figura do poeta de currículo

ele diz - não compro mais a figura do hedonista viciado em drogas

eu digo - e eu não compro mais a figura do ganhador de prêmios

ele diz - não compro mais a figura do internado no hospício

eu digo - e eu não compro a figura de quem faz um "estudo sobre..."

ele diz - simplesmente não compro mais nada desta corja

eu digo - e quem disse que eu compraria?

sábado, agosto 19, 2006

velu frost-nive de anãs a vis

Vocês se lembram do desafio que eu havia proposto há alguns posts atrás, de que eu daria 10 reais para quem decifrasse o verso acima? Pois então, a própria autora do verso (Jussara Salazar) me mandou a "tradução", não apenas deste verso, mas do poema inteiro em questão. Para a minha surpresa, a "tradução" é na verdade um belo poema (na minha opinião, muito mais legível e expressivo do que o original...aliás fiz uma experiência e tirei o "velu frost-nive de anãs a vis", acho que melhorou ainda mais). Bom, quanto aos 10 reais que eu prometi Jussara...posso deixar na conta?

: Sphinx :
: Esfinge (decifra-me ou te devorarei)


Helena conduzia as cabras
Uma mulher caminha
anoite solitude
na solidão da noite


conduzia o ovo hybris
caminha e carrega sua história incerta
e o oceano
e carrega o mar
por constelar o céu
por refletir as estrelas


que volantim circundando
que qualquer um rodeando
via no lunarium temor vacivo
via na lua seu medo do vazio


velu frost-nive de anãs a vis
da pele fria-neve de anãs vis-a vis


a saber um dia
pelo que se soube um dia
saltou
pulou


no púrpura límpido
em um vermelho claro e sangrento.

Jussara Salazar
______________________________________________

agora só poema-tradução sem o tal verso:


: Esfinge (decifra-me ou te devorarei)


Uma mulher caminha
na solidão da noite


caminha e carrega
sua história incerta
carrega o mar
por refletir as estrelas

qualquer um que passa
vê na lua seu medo do vazio


pelo que se soube
um dia pulou


em um vermelho claro e sangrento.

Jussara Salazar

quinta-feira, agosto 17, 2006

Vocês conhecem o Rodrigo Madeira?

Pois é: um dos melhores poetas que eu já li. Já havia lido alguns textos do cara numa oficina de poesia ministrada pelo Koproski, mas antes de ontem, no porão loquax, o Rodrigo superou qualquer espectativa. Numa homenagem ao Paulo leminski, Madeira foi destaque ao declamar esse sensacional poema:

Ao meu assassino

há muito equívoco nesta
cidade
sobre a morte de paulo leminski.
morreu de bebida, de curitiba,
de harakiri e o diabo!

deixe-me dizer-lhe:
leminski está morto e fui eu
que o matei.
era tardinha, sete de junho
de 89, na esquina do stuart.
eu tinha apenas dez anos de idade.

abracei-o no golpe de faca
e só largaria
depois que ele se largasse. olhou-me,
excepcionalmente, com olhos de
cachorro manso e disse: "quem é vivo
sempre desaparece".
sorriu-me como se eu morresse.
nem perguntou
por quê sabia que aquilo
era obra de um tigre...

hoje entendo a razão
de não ter cabido um "sinto muito,
poeta!"
é a ordem natural das coisas.
leminski também matou seu touro
e voltou pra casa de mãos novas

comigo
acontecerá o mesmo.
não fiz nem 28 anos e já espero
o golpe de meu vingador.
tenho esta impressão
de que ele virá da direita,
sabendo que sou canhoto em tudo.

morro de medo do menino que
fala sozinho, possível poeta,
da menina que penteia os cabelos
no vento (será poeta?),
do adolescente no expresso
que lê a ilíada em pé.
morro de medo, morro de medo,
mas não há jeito, é certo como o sábado.

na esquina de casa,
na saída do barbeiro,
na volta da banca,
na fila do banco,
num estacionamento
de supermercado, ele estará
a minha espera.

inevitável que seja.
em algum lugar da cidade
meu assassino está nascendo.

escute daqui alguns anos estas palavras:
"tudo bem,
cara, eu entendo! perdoe-se como me perdoei,
ou não escreverá sequer um verso.

apenas interceda em meu favor para que eu seja
enterrado em meu bar preferido.
só isso. os poetas merecem ser emparedados
em seu boteco eletivo, assim como as aves
devem ser sepultadas no ar.

o botequineiro saberá rezar minha missa."

não há jeito,
é certo como o sábado:
tal qual as putas de outros tempos,
o poeta cora seu rosto com sangue.

o sangue de outros poetas

Rodrigo Madeira
_________________________________________

até me arrepia ao reler. então meu caro Corona (se você estiver lendo este post), quem sabe não é a hora de editar este grande poeta, ein?

quarta-feira, agosto 16, 2006

Beber é fácil (para o amigo Ivan Justen sobre a noite de ontem)

o silêncio é uma arma branca
se aparecerem com uma branca
fita, ri e prende fôlego
pois ele é uma arma branca
mesmo com um 38 ou com uma 45
é um vício alguém se fuder pelos outros
o silêncio é uma arma branca
se você é ferido ao dar a outra face
lembre-se: ele morreu asfixiado
e você, um sacana, simplesmente
olhou para o gênio e em silêncio
quebrou a lâmpada

segunda-feira, agosto 14, 2006

diálogo em noite frustrada

Ela diz - eu sou um redemoinho de sentimentos e sensações, uma alma pronta para alçar vôos cada vez mais profundos por entre os galhos rotos que a vida nos impõe, pois esta é a minha vida, um rio transbordando e transbordando e transbordando um céu de sentimentos múltiplos, de cores nunca antes vistas queimando o que é diáfano e lacrimoso.

Eu digo - você está carente.

Ela diz - você nunca vai entender o que se passa nesta alma-fênix de mulher rasgada pelas artimanhas ferinas da vida, já que esta sua forma machista de impor a sua opinião será sempre uma barreira entre esta represa tórrida de sentimentos, que sou eu, e esta sua mania irritante e reducionista de limitar todo e qualquer assunto que diga respeito à mim.

Eu digo - você está carente.

Ela diz chorando - você nunca vai me entender. você com este seu ar de pseudo-intelectual, com este cigarro entre os dedos, com este brilho irritante no olhar. sabe o que mais, você é um bêbado, eu nunca deveria ter me envolvido com um tipo escroto como você, já que você, com esta sua enpafiazinha de moleque, nunca irá entender uma mulher de verdade, uma pantera desvairada no cio dos mais puros e impuros sentimentos, uma estrela cadente do eterno brilho da sexualidade feminina de um fera em extinção

Eu digo - você já não está falando coisa com coisa

Ela diz - e o que você entende disso, seu merdinha?

Eu digo - me dá um abraço?

sábado, agosto 12, 2006

cidade-renite

aqui na cidade-renite com dentes cariados de
gente friorenta de crack
aqui neste mar cinza de cinzas de cigarro
e solidão enlatada em postos de conveniências
aqui enconstado em uma mensagem de amor
brilhantemente brega
no muro do cemitério municipal
aqui consumindo o resto da ausência
que o silêncio nos leva de aviãosinho até a boca
aqui carente de crenças de templos em templos
procurando um colo de pedra um abraço de gesso
faz tempo eu tento encerrar o assunto
aqui na cidade-renite espirrando respostas
costurando a vida
com os retalhos da morte
costurando a vida
com os retalhos da morte
com os retalhos mofados da morte
da cidade-renite

sexta-feira, agosto 11, 2006

Aniversário

Eis que convido alguns amigos (mais especificamente, Gugão, Troy e Helena) para tomar uma cerveja no PF e ninguém aparece. Claro que os amigos de sempre do Ponto Final estavam lá: Drica, Diniz, Samuel...enfim, toda a cambada. De repente, para a minha surpresa, surge Gilson Fukushima...porra, Fukushima, a última pessoa que eu esperava que fosse aparecer no Ponto Final...Fukushima, se você por acaso ler este post, saiba que você subiu no meu conceito.

segunda-feira, agosto 07, 2006

LEITURA PÚBLICA DA PEÇA ‘TUA PASSIVIDADE ME EMBRUTECE’

DE – LUIZ FELIPE LEPREVOST

Com os atores Gabriel Gorosito e Renata Hardy

Onde?
Solar do Rosário
Rua Duque de Caxias, nº 04, Largo da Ordem
CURITIBA-PR
Quando?
08.08.06 – Terça – feira – 20h30


Sinopse de TUA PASSIVIDADE ME EMBRUTECE

Tua Passividade Me Embrutece é a primeira incursão do poeta Luiz Felipe Leprevost em dramaturgia. Resultado de um estudo que alia diálogos cotidianos de um casal com um discurso poético de imagens ousadas. A história se passa em Gélida, cidade inventada pelo autor que contém coincidentemente referências não explícitas à cidade de Curitiba, onde o dramaturgo nasceu e vive.
O ator Gabriel Gorosito interpreta o personagem Ele, um cara obcecado por uma garota que o despreza quando o admira e se entrega de olhos fechados, mordendo os lábios, ao mesmo tempo em que se prepara pra dar o bote. Renata Hardy faz Ela, personagem antítese, ou complementar (como preferirmos) de Ele. A relação entre os dois pode ser considerada um tipo de ódio que vem engarrafado, um antídoto que é tomado em doses homeopáticas, ou seja, uma ampola pra cada um dos atos.
O que a trama de Leprevost discute é a impossibilidade do amor. Logo nas epígrafes da peça, a chave do todo nos versos de Cazuza “O teu amor é uma mentira / Que a minha vaidade quer” e de Gonçalo M. Tavares “é uma probabilidade raríssima: / as mulheres amarem / homens que as amam.”
Com características autobiográficas e diálogos retirados de conversas e conflitos reais entre o autor e a atriz pra quem a peça é dedicada, Tua Passividade Me Embrutece acaba sendo um estudo profundo e sensível sobre as facetas da paixão. Levando em conta esse tema recorrente em toda a literatura universal, mais as artimanhas de estilo e forma, a obra de Leprevost, extremamente original, pode ser considerada um inteligente e delicioso pretexto pra poesia.

terça-feira, agosto 01, 2006

olho fixo pra cegueira da parede e de repente Vinícius de Morais no som aqui de casa cantando rouco rouco bem rouco mesmo depois de uma ampola de Dimple essa coisinha mais linda (é a melhor versão que eu conheço dessa canção):
nature boy

There was a boy
A very strange, enchanted boy
They say he wandered very far
Very far, over land and sea
A little shy and sad of eye
But very wise was he

And then one day,
One magic day he passed my way
While we spoke of many things
Fools and Kings
This he said to me…

The greatest thing you’ll ever learn
Is just to love and be loved in return.
(ainda estou aprendendo a ser triste. um dia, quem sabe. segurar o choro, que a parte mais fácil, eu já consigo).

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