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terça-feira, maio 30, 2006

Minta

Toda segunda-feira rola uma sessão grátis de cinema lá no shopping cristal, às 22:00. Ontem fui assistir a um filme que fala sobre a vida "romântica" do escritor Jorge Luis Borges. O filme é baseado num livro de Estela Canto, grande paixão de Borges. O que ocorre (coisa que eu nunca tinha reparado) é que o Borges dedicou o conto "O Aleph" para a tal Estela. Impressionante que hoje (já que ontem eu terminei a noite depois de umas quatro cervejas) eu fui dar uma relida no conto em questão (por causa do filme) e encontrei uma frase que (coisa do destino) eu precisava ouvir. Lá vai:

"compreendi que o trabalho do poeta não estava na poesia (aqui ele fala, não do fazer poético, mas sim da análise de poemas); estava na invenções de razões para que a poesia fosse admirável; naturalmente, esse ulterior trabalho modificava a obra para ele, mas não para os outros"

(Do conto "O Aleph" de J.L. Borges)

Bom, mais impressionante ainda é eu lembrar neste exato momento de uma das últimas falas do Borges no filme, algo do tipo "Schopenhauer nos dizia que tentar compreender os fatos do mundo é como tentar achar formas de animais e árvores nas formas das nuvens". A questão é que agora entendo o motivo da menina do verão x ter me levado para a sua casa na noite em que lhe entreguei um poema: ela não entendeu aqueles garranchos da forma que eu entendia, mas reconheceu o nobre gesto de alguém dedicar um poema para outrem. Moral da história: por mais que o presente seja uma bijuteria, minta (hoje estou maquiavélico) que você gastou todas as suas economias nele.

Mas esperem, agora que entra o desfecho, a chave de ouro desta minha história. Eis que agorinha mesmo, pirando nestas coisas tolas, eu me deparo com o cd do Luiz Tatit "ouvidos uni-vos" que contém uma música cantada pela Ná Ozzeti chamada "Minta". É claro que vou reproduzir a letra aqui pra vocês. Quem possui este cd, releia este texto em voz alta com o fundo musical de "Minta" (o efeito que dá é no mínimo mentiroso).

Minta
(Ricardo Breim/ Luiz Tatit)

Minta que você sozinho
Fez tanta proeza
Que já tem certeza
que este mundo é seu

Minta que no fim das contas
Pra ser bem sincero
Você nem se lembra
Que me conheceu

Minta mas com muita classe
Como se não se importasse
Com sei lá quem quer que fosse
Mesmo quem lhe trouxe
Toda essa confiança
Que lhe cobre a face

Minta que depois da gente
Bem rapidamente
Você virou outro
E logo me esqueceu

Minta descaradamente
Que daí pra frente
Tudo que cê teve
Foi melhor que eu

Minta mas com segurança
pra que eu me sinta criança
E me dê a doce liberdade
De ouvir mentiras
Em palavras
Que são de verdade

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