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quarta-feira, abril 06, 2005

vaidade

Durante a minha vida magra nunca imaginei ser gordo. Lenvantei cedo para a resolução de projetos e produções, dois passos e meio até o banheiro é o que ouso dar, carregando nas costas a minha preguiça de bicho. Olho para o espelho e me assusto: aquele não sou eu. Fazia tempo que eu não me olhava como se a polícia (ou a vigilância sanitária) andasse atrás de mim. Na adolescência eu não costumava me olhar no espelho desta forma, mas a me olhar como se o espelho fosse uma televisão. Como se aquilo já contivesse um fim embalado e pronto para uso. Todos os dias: televisão e pessoas saudáveis como gado gordo e novo no pasto. Nunca imaginaria que tomar cerveja tornasse a pele flácida, como flácida são as palavras das notícias do jornal de ontem. Nunca imaginaria que fumar causasse falta de ar, falta de vitaminas, excesso de insônia. Na verdade, a gente só repara que se respira constantemente, quando o ar se ausenta. E são tantas as tentações na esteira deste imenso e delicioso supermercado obeso: picanha, cerveja, caipirinha, x-salada, coxinha...enfim tudo passa pelos meus olhos diariamente, como num conto fantástico, onde até as paredes são comestiveis. Não foi por acaso que eu me olhei dezenas de vezes no espelho. Hoje de manhã tornei-me um produto ao andar durante uma hora numa esteira.

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