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quarta-feira, janeiro 27, 2010

Não é no porão do Wonka, mas é uma sonzeira.
O nome é Hannelore Muyllaert
A música é de Boris Vian



mais info http://www.hannezingt.be/

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Roberto Alvim - O Teatro da Penumbra

A iluminação escassa e a ênfase no texto são as principais características de Roberto Alvim - um dos destaques da nova geração de encenadores

Por Gabriela Mellão

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O diretor e dramaturgo Roberto Alvim no Club Noir, em São Paulo. No seu teatro, a palavra funciona como força ordenadora na escuridão Foto: Gui Mohallem (       0)
Gui Mohallem
O diretor e dramaturgo Roberto Alvim no Club Noir, em São Paulo. No seu teatro, a palavra funciona como força ordenadora na escuridão

A descoberta do poder das palavras se deu quando o carioca Roberto Alvim, 36 anos, era uma criança de 8. Sozinho em casa numa tarde, aventurou-se na biblioteca de seus pais, onde encontrou o volume de capa preta com um título irresistível: Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe. Pela janela entreaberta podia ver o cemitério do outro lado da rua, mas a luz no quarto era crepuscular. O menino devorou o conto O Gato Preto, mas fraquejou em Berenice - história macabra de um homem obcecado pelos dentes da prima morta. Em pânico, correu para a rua, em busca de gente. "Pela força da literatura, daquelas palavras, num simples livro, o mundo inteiro ao meu redor ganhou novo significado", conta Alvim. À frente da companhia paulista Club Noir, ele vem explorando o palco como um espaço da escuridão, onde a palavra é a força ordenadora. É o caso de A Terrível Voz de Satã, espetáculo do inglês Gregory Motton cuja temporada será retomada em março, e de O Quarto, peça do irlandês Harold Pinter cuja montagem lhe rendeu o prêmio de melhor espetáculo no 5º Prêmio Bravo! Prime de Cultura.

Três diretores dominaram a cena brasileira nos últimos trinta anos: Antunes Filho, José Celso Martinez Corrêa e Gerald Thomas. Ao lado de Antonio Araújo, encenador do Teatro da Vertigem, e Enrique Diaz, Roberto Alvim é um dos destaques da geração de encenadores que veio para suceder a anterior. Como acontece com Antunes, Zé Celso ou Gerald, são diretores cujo estilo se reconhece facilmente. O de Alvim é marcado por duas características. A primeira, o uso da palavra. Ele faz parte de um time de diretores que aposta na força do texto - no caso do Club Noir, de dramaturgos contemporâneos. Além de Motton e de Pinter, a companhia, nova, já encenou no Brasil o norueguês Arne Lygre (Homem Sem Rumo) e um texto do próprio Alvim (Anátema).

A segunda característica é o trabalho peculiar com a iluminação. Nas peças recentes de Alvim, a escuridão domina a cena, abrindo espaço para o imaginário, fazendo ruir as barreiras entre vida e morte, concreto e abstrato, tempo e espaço. Isso demanda um trabalho rigoroso de preparação vocal dos atores, realizado de modo primoroso sobretudo por Juliana Galdino, uma das mais talentosas atrizes da nova geração, que é também mulher de Alvim e fundadora ao seu lado da Club Noir. Além de resgatar o valor supremo da palavra, a penumbra exige imaginação do espectador para a compreensão da obra. "Temos que enxergar a parcela de vida que ainda não foi sufocada pela tempestade de imagens e barulho do mundo atual", diz.

Alvim se convenceu a aderir a essa espécie de estética da penumbra também por acaso. Embora possuísse a inclinação para espetáculos com pouca luz, o diretor resistia. "Isso não pode, isso não é teatro", dizia a si mesmo. Em 2007, poucos dias antes de estrear Homem Sem Rumo, faltou luz na sala de ensaio. "A luz de emergência iluminava muito tenuamente o espaço, e me fez perceber que se você não tem fisionomia, as figuras mudam de estatuto dentro da cena", diz.

CABANA NO PIAUÍ

A carreira de Alvim tomou rumo depois de uma crise pessoal. Aos 22 anos, ele abandonou uma precoce e já profílica trajetória como diretor para se recolher dentro de si, quase à margem da vida, resultado de uma experiência gerada pela prática de meditação. Formado na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), no Rio de Janeiro, Alvim montava de três a quatro peças por ano, recebendo boas críticas. Um dia, parou tudo, experimentando o que chama hoje de "cessação da formalização da linguagem". Ficou três dias sem falar, entrando depois em um estado de contemplação, se comunicando o mínimo possível. A experiência evoluiu para extremos: durante 21 dias ficou sozinho numa cabana no sertão do Piauí, andando descalço, comendo o mínimo possível e usando a mesma roupa preta. Depois disso voltou ao Rio de Janeiro, para a casa dos pais, onde deu prosseguimento a esta vivência. Cerca de um ano e meio depois, recebeu um telefonema. Era um convite para dirigir uma peça. Na verdade, um convite para retornar à vida. "Estava ensaiando uma saída para me tornar andarilho, mendigo, mas, por algum motivo, resolvi dar três passos para trás e aceitar a direção".

Depois de retomar a carreira, voltar a dirigir e escrever, Alvim foi chamado para lecionar história do teatro e dramaturgia na CAL. Aos 27 anos de idade, tornou-se diretor artístico de uma pequena sala do Teatro Carlos Gomes e posteriormente do Teatro Ziembinski, no Rio de Janeiro. Dedicou-se, então, à causa da nova dramaturgia brasileira, inicialmente promovendo leituras de textos, depois encenações e cursos de escrita teatral. "Pedro Brício, Daniela Pereira de Carvalho e outros dramaturgos que produzem direto lá no Rio surgiram a partir desse projeto", diz.

A empreitada foi interrompida em 2006 quando Alvim se mudou para São Paulo para viver com Juliana Galdino. Pouco depois, a atriz saiu do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) de Antunes Filho, para fundarem juntos a Club Noir. A companhia tem como norte apresentar autores contemporâneos inéditos no Brasil, através de montagens que investigam esta estética da penumbra. Sua sede fica na rua Augusta, em São Paulo, e o espaço segue a linha de outros teatros da região central da cidade, que combinam sala de espetáculos com café - como os Satyros e Parlapatões, criadores de um modelo de negócio que viabilizou o teatro alternativo de São Paulo. A companhia garante o aluguel de seu espaço também com o lucro obtido em cursos de formação de ator, ministrados por Alvim e Juliana. A partir deste mês, e até o fim de fevereiro, a dupla apresenta o resultado destas oficinas, a II Paralela Noir - com montagens de Os Sete Gatinhos, de Nelson Rodrigues, e Os Gigantes da Montanha, de Luigi Pirandello, dirigidas por Alvim, e Anjo Negro, também de Nelson Rodrigues, dirigida por Juliana.

ovo frito em cena

Como diretor, Alvim trabalha suas idéias à exaustão. Fez sete versões integrais de O Quarto até dar-se por satisfeito. Partiu de uma concepção realista - na qual Juliana se movimentava em uma cozinha e fritava um ovo em cena - para chegar ao extremo oposto desta ideia, menos visual. "É preciso começar de forma figurativa, trabalhando as camadas mais óbvias do texto, para depois entrar naquelas ligadas à essência da obra", afirma. No caso de A Terrível Voz de Satã, tentou iniciar o processo de criação a partir da estética de O Quarto, mas desistiu. As dificuldades eram outras. Ao longo de um ano de ensaios diários, experimentou 19 versões de montagens. Entre elas, uma que fazia referência ao universo da magia negra - com rituais iluminados por velas, invocações satanistas e até bode empalhado em cena.

"A Terrível Voz de Satã não é de maneira nenhuma uma ruptura de O Quarto, e muito menos uma repetição, é um desdobramento" explica. A peça faz a tradução cênica da ideia satânica de legião, evocando uma passagem do Evangelho de Marcos -- aquela em que um homem possuído, inquirido por Jesus sobre qual era o seu nome, responde: "Legião, porque somos muitos". Na peça, o protagonista, um marinheiro irlandês de nome Tom Doheny, é concebido como um ser dotado de cerca de duas dezenas de vozes interiores. Ele faz uma viagem onírica em busca de si mesmo, personificando, em sua trajetória, todos os homens que caminham sobre a terra. O resultado é perturbador - e difícil. No teatro de Alvim, o que se apresenta é uma realidade estranha ao cotidiano. São jogos de linguagem cuja compreensão, às vezes, demanda esforço. E talvez esse esforço altamente recompensador - de tatear na escuridão em busca de novos significados - seja tudo o que exige do grande teatro, de Sófocles a Shakespeare e aos dias de hoje.

Gabriela Mellão é jornalista e dramaturga, autora de Parasita, entre outras peças.

terça-feira, janeiro 12, 2010

Tirado do blog Figurino e Cena.

(foto de Albert Nane)

"Todo mundo sempre soube que eu adoro falar bem dos artistas e trabalhos que eu me relaciono e admiro. Reconheço em mim a virtude de admirar artistas e trabalhos diferentes entre si, desde que sejam sempre de boa qualidade. Estilo nunca me aprisionou muito. Gosto de transitar, mas ao mesmo tempo de também permanecer. Isto sempre ocorre quando acredito realmente em algo. Distingo sempre entre aquilo que é bom daquilo que é ruim, nunca entre aquilo que é certo daquilo que é errado. Neste ano de 2010 continuarei valorizando o trabalho dos artistas que tem o que mostrar. Profissionais que admiro e que sempre estou por perto, mesmo que seja só para admirar. A lista é grande. Escolhi começar por Alexandre França.
É ótimo poder lembrar que vêem surgindo em Curitiba uma nova geração de dramaturgos. Alexandre França, dramaturgo e músico, é uma boa lembrança de um representante desses autores. É ótimo também lembrar que esses novos dramaturgos vêem diretamente ao encontro dos interesses dos novos encenadores de plantão. Um bom texto sempre é muito sonhado pelos profissionais do teatro.
Admiro muito o trabalho dos bons dramaturgos, com linguagens distintas, com estilos e estruturas interessantes. Dos dramaturgos já veteranos em Curitiba cito, entre outros tão talentosos, o nome de Sueli Araujo e Paulo Biscaia que sempre me fascinaram pelo trabalho autoral, cada um no seu estilo, mas ambos geniais no que acreditam. Uma boa dramaturgia sempre influiu muito na qualidade final do espetáculo.
Alexandre França é um autor que veio da música, já que esta foi a primeira atividade profissional que exerceu. Ele já teve dois CDs gravados e produzidos, A SOLIDÃO NÃO MATA, DÁ A IDÉIA em 2006 e MUSICA DE APARTAMENTO em 2009. Na área da música, França sempre esta muito bem acompanhado de excelentes músicos.
Tenho acompanhado seus textos desde o primeiro a ser encenado em 2007 com as atrizes Helena Portela e Verônica Rodrigues, UM IDIOTA DE PRESENTE, quando fui convidado para fazer o figurino e o cenário desse e do próximo espetáculo, FINAL DO MÊS com Claudete Pereira Jorge e Helena Portela no elenco e Verônica Rodrigues na produção. Depois disso, o França escreveu alguns textos, apresentados em leituras dramáticas ou apresentações que não pude estar presente e também outros textos que tive a oportunidade de ler. Cada um tem suas características e qualidades específicas. Vi também GINA, monólogo escrito para a triz Maia Piva. Seus textos estão cada vez melhores. Nos últimos que li, ainda não encenados, vi novos apontamentos na estrutura e no estilo, novidades que vieram para amadurecer muito e deixar suas tramas ainda mais sofisticadas.
Fique de olho.
Vida longa a Letra e a Música de Alexandre França.
Os artistas e o público curitibano agradecem".


Paulo Vinícius
Ator, cenógrafo e figurinista.
do blog
Figurino e Cena

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