do romance Factótum de Charles Bukowski
tradução: Pedro Gonzaga.
Na quinta-feira (10), também às 21 horas, um Dalton Trevisan lírico que ganha voz no solo do ator Ranieri González, dirigido por Nena Inoue. São três contos curtos: “Firififi”, “O Grande Circo de Cavalinhos” e “O Fim da Fifi”, os mesmos apresentados no Teatro da Caixa em setembro de 2008.
A programação, batizada de Outras Leituras, foi pensada para aproximar profissionais da cena curitibana que, segundo Nena, compartilham um olhar específico, fundado no gosto pela literatura, a força da palavra e a concisão. Por seu caráter mais livre, ainda em processo, a leitura cênica é para a diretora um espaço de experimentação maior e de inclusão do público.
As atividades seguem durante o fim de semana com A Língua Cortada, na sexta-feira (11), às 21 horas. O texto de Alexandre França, que Edson Bueno dirige, tem Rosana Stavis e Pagu Leal como porta-vozes de duas personagens que se embrenham em uma discussão depois de participarem de um jogo da verdade.
Sábado (12), no mesmo horário, em vez de leitura está marcada a apresentação do violonista Octavio Camargo e suas canções com parceiros como Thadeu Wojciechowski, Odacir Mazzarolo e Chiris Gomes.
O Outras Leituras termina no domingo (13), às 19 horas, quando o diretor da Sutil Companhia, Felipe Hirsch, e jovens atores escolhidos por ele em uma audição se ocupam de textos do norte-americano J. D. Salinger (de O Apanhador no Campo de Centeio). Na semana seguinte, o Espaço Cênico realiza uma oficina livre de teatro coordenada por Nena Inoue, entre 18 e 20 de dezembro.
Serviço
Outras Leituras. Espaço Cênico (R. Paulo Graeser Sobrinho, 305), (41) 3338-0450. 2ª a sáb. às 21 horas e dom. às 19 horas. Entrada franca. Até 13 de dezembro.
Amor não é algo que cai na sua cabeça quando vc menos espera. Isso é avião. Amor é outra coisa
Amor não é uma queimação no estômago. Isso é a empadinha estragada que vc comeu ontem. Amor é outra coisa
Vc viver grudada com ele, não é amor. Isso é uma anomalia entre gêmeos univitelinos q nomeamos "gêmeos siameses". Amor é outra coisa!
O amor não é cego....o nome disso é Steve Wonder
Depois de soltar essas piadinhas no Twitter (que sempre é bom, gostoso e me divirto bastante com a galhofice) me perguntaram (ainda em clima de brincadeira) "O que é o amor afinal?", e eu no alto dos meus, muito próximos, 40 anos achei que deveria falar mais sério e me veio:
“A mim, ninguém disse o que é o amor. Eu nem sequer estou certo da necessidade de sabê-lo. Mas se vc quer uma descrição que seja completa, cabal, poderá encontrá-la na Bíblia. Foi lá que Paulo explicou o que era amor.A única coisa errada com a sua definição é que ela nos arrasa. Se amor é isso como Paulo disse que é, então se trata de uma coisa tão rara que dificilmente alguém já a viveu. Mas como texto de leitura em casamentos e outras ocasiões solenes, esse capítulo faz bastante efeito. Por mim, acho que basta uma pessoa ser boa para quem vive com ela. Carinho também faz bem. Bom humor, companheirismo e tolerância. Ambições razoáveis a respeito do outro. Se pudermos servir todos esses ingredientes assim...então já não terá tanta importância o amor.” Ingmar Bergman
"Na última cena, o grupo parece, num primeiro momento, ter se distanciado ainda mais da proposta temática, da relação entre o amor e a dor, mas, por outro lado, fica a impressão de que entra em cena um novo componente que se relaciona diretamente com a dor de amor: o tempo. O tempo parece ser o protagonista dessa última cena. Nela, os sujeitos são praticamente atropelados pelo cotidiano, pela velocidade em que a vida corre. Uma música dá a dinâmica da cena: a letra descreve situações, mencionando objetos. Os objetos vão entrando em cena, passando de mão em mão. Apesar da dinâmica da cena investir radicalmente na repetição e correr o risco de se esgotar logo, o conjunto da realização é tão singelo que a cena ganha sentido.
A repetição não é, nesta cena, uma exposição de um procedimento interno ou uma formalização postiça. Ela tem significado, oferece ao espectador algumas possibilidades de fruição. É possível pensar que os objetos, apesar de nomeados e reapresentados visualmente, exercem uma ação sobre os sujeitos, a ação do tempo. E, na preocupação de dar conta de lidar com tantas ações físicas concretas num ritmo imposto pela música, os atores param de fazer força para estar em cena e, quase por acidente, a presença de cada um acontece. É neste momento que aparecem os primeiros traços da autenticidade do grupo e, ao mesmo tempo, se estabelece uma distância radical das premissas que estavam em jogo na cena inicial."
Por Daniele AvilaAlbari Rosa/Gazeta do Povo
Músico e compositor nascido em Paranavaí e radicado em Curitiba, Troy Rossilho já gravou cinco álbuns e pretende migrar dos bares para a produção em estúdio
Publicado em 09/11/2009 | Marcio Renato dos SantosCesar, um desses sujeitos que faz o Brasil seguir em frente, um empreendedor, desde muito cedo incentivou o pequeno Troy a ler. Um dia, o filho disse para o pai que queria ser médico. O pai, sem hesitar, rebateu: “Mas por quê? Já tem tanto médico por aí. Por que você não vai ser artista?”. O menino, dia e noite com o violão nos braços, sem guerrear consigo mesmo, seguiu o conselho paterno.
Passa o tempo, talvez 1998, no máximo 1999, e um tio pergunta: “Cadê a tua Helena?”. Troy ainda não conhecia em profundidade os assuntos gregos, mas já sabia que a personagem Helena foi o pivô da Guerra de Troia. Ele fez uma canção chamada “Helena”, a décima faixa de seu álbum Cru, gravado no ano 2000.
Se é acaso ou não, difícil afirmar, mas há quatro anos Troy vive uma relação estável com uma mulher chamada Helena. Trata-se da atriz Helena Portela.
A coincidência é maior ainda. Helena é filha da atriz Claudete Pereira Jorge, que há dois anos viajou para Salônica, cidade grega, para declamar o “Canto 1” da Ilíada, de Homero: nada menos que 700 versos, em meio a uma bienal de artes.
Quando Claudete contou aos gregos que tinha uma filha chamada Helena, poucos acreditaram. Em seguida, ela disse que o namorado da filha se chama Troy. “Pensaram que eu estava contando piada. É realmente muita coincidência esse encontro de uma Helena com um Troy”, diz Claudete.
O que o palco ensina
Há dez anos Troy vai dormir por volta das 6 horas e acorda às 15. Durante essa última década, ele fez história tocando em bares curitibanos. Nem lembra o nome de todos onde se apresentou. Passou pelos palcos do Ciccarino, do Bar Brasil e do Ponto Final. Há poucas semanas, deixou de ser a atração fixa de todas as sextas-feiras do Era Só O Que Faltava. Atualmente, toca todos os sábados no Bar Doce Lar, acompanhado de Marcos Saldanha (bateria), Guaraná (baixo) e Mazzar (guitarra).
De Ataulfo Alves a Chico Buarque. De Nelson Cavaquinho a João Bosco. Troy costuma apresentar canções desses e de outros compositores brasileiros, geralmente músicas não-óbvias. Entre um e outro clássico, ele mostra alguma composição autoral. Já gravou cinco álbuns. Ele faz parcerias com letristas curitibanos, mas as canções mais bem resolvidas de seu repertório pessoal são as que ele compõe ao lado de seu pai. Cesar Rossilho, um profissional liberal, é na realidade um poeta: ele tem um olhar inusitado sobre o cotidiano, o amor e os impasses do ser humano.
Troy aprendeu, “muito”, sobre o comportamento observando o público nos bares onde se apresentou. Ele conta que as noites das sextas-feiras são únicas. É o final da jornada da semana, todos querem alegria e há uma onda de entusiasmo diante da perspectiva dos dois dias de folga que antecedem a próxima segunda-feira e o retorno ao trabalho. “Já vi de tudo. Dos sentimentos sublimes aos mais violentos.” A troca de energia, entre palco e plateia, é uma surpresa a cada nova apresentação.
Além de observar, e entender, as contradições humanas, ele também exercitou e evoluiu como instrumentista e cantor nos bares.
Mudança de estação
Troy inicia um processo que parece irreversível: dos bares rumo ao estúdio. Recebeu o convite do diretor de teatro Marcelo Marchioro para fazer a direção musical da peça Medeia, com previsão de ser encenada no primeiro semestre de 2010, no Teatro Guaíra. Ele já fez trilha sonora para as peças O Longo Caminho, de Edson Bueno, e Um Idiota de Presente (Alexandre França), e ficou muito satisfeito com a experiência.
Há três anos, Troy comprou uma casa de três pisos e no último andar construiu um estúdio profissional, onde já gravou álbuns de artistas locais. Atualmente, as quintas-feiras são reservadas para ensaiar o repertório de seu próximo disco, que será finalizado antes do próximo carnaval. Já tem propostas para gravar jingles para a campanha política do ano que vem.
Amanhã, às 21 horas, ele desce ao porão do Wonka Bar (Trajano Reis, 326), (41) 3026-6272, para, ao lado do maestro, amigo e virtuose do violão Octávio Camargo, apresentar repertório autoral.
Troy segue a sua travessia, e diz, cantando: “Nada mais sincero que o amor em busca de atenção.”
Quarta-feira, 07/10/2009
Reka Ross Kloss/Divulgação
Uma cinquentona solitária se apaixona por homens mais jovens na nova peça de Alexandre França, que estreia hoje no Mini-Guaíra
Publicado em 07/10/2009 Luciana RomagnolliRelações românticas duráveis não são o forte da filha de Gina. A moça troca de namorado a toda hora. E a mãe cinquentona, de certa forma, a acompanha: se apaixona por cada um deles. Os amores platônicos nos quais a sonhadora senhora acredita piamente são partilhados por ela com a plateia, em tom confessional, no monólogo Gina, que estreia nesta quarta-feira, no Mini-Guaíra, uma breve temporada de duas semanas.
Escrita e dirigida pelo curitibano Alexandre França, a peça ficou guardada por mais ou menos três anos na gaveta do jovem autor, cujos textos ultimamente têm sido bastante vistos nos palcos da cidade em montagens como Habituès – O Longo Caminho de Dois Frequentadores de Boteco, Um Idiota de Presente e Final do Mês. Nesta última, contracenavam a veterana Claudete Pereira Jorge e sua filha Helena Portela.
Alexandre não encontrou facilmente uma intérprete que pudesse enxergar no papel de Gina. “É um texto que expõe bastante a atriz. É uma mulher completamente maluca”, justifica, rindo. Durante os ensaios de outro espetáculo seu, o malogrado Mentira – que estrearia no Festival de Curitiba do ano passado, mas acabou cancelado –, o criador enfim encontrou uma intérprete para sua criatura. “Maia Piva estava no elenco. Vendo a ação dela nos ensaios, achei que poderia dar conta de fazer o texto”, conta França.
Para a atriz, o desafio é duplo – ou até mesmo triplo. Maia é uma profissional estreante, formada há pouco pela Faculdade de Artes do Paraná. Mas já enfrenta a responsabilidade de sustentar um monólogo, em que as atenções recaem todas sobre ela. Além disso, aos 33 anos, ainda está longe das cinco décadas acumuladas por sua personagem. Sua maior preocupação declarada é, portanto, alcançar a profundidade de uma mulher com uma história de vida mais longa que a sua.
Atento a isso, o diretor e ela se dedicaram ao trabalho corporal, adequando seu modo de andar e falar à idade pretendida. Detalhes ainda mais importantes, uma vez que França conduziu a encenação por uma estética mais naturalista. O figurino e o cenário (um puf e um manequim) ajudam a compor o universo da personagem, que trabalha em uma loja de ternos. “Dão esse ar mais de senhora do centro de Curitiba”, define o autor. A cidade aparece em referências a lugares emblemáticos para os curitibanos, como a Reitoria.
Gina ocupa sua solidão com fantasias e usa o manequim que lhe faz companhia para representar seus amados. Alexandre França, ao imaginar a personagem, pretendia falar de amor, mas pensava, principalmente, em como o romantismo foi se desgastando com o tempo. Quis então contrastar passado e presente.
“Gina glamouriza tudo. Tem essa visão mais antiga do amor. Ela acredita que está certa e que o objeto do seu desejo a ama ao extremo”, conta. A graça da situação evolui para um clima de tensão, a medida que seus amores ilusórios não se concretizam.
Serviço: Gina. Mini-Guaíra (R. Amintas de Barros, s/n.º), (41) 3315-0979. Texto e direção de Alexandre França. Com Maia Piva. Estreia hoje. Quarta-feira a sábado, às 21 horas; e domingo, às 19 horas. R$ 10. Desconto de 50% para portadores do Cartão Teatro Guaíra. Classificação indicativa: 18 anos. Até 18 de outubro.
Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Aos 27 anos, o curitibano Alexandre França já publicou dois livros de poesia, gravou dois álbuns e conseguiu encenar três dos dez textos de teatro que escreveu
Publicado em 21/09/2009 | Marcio Renato dos SantosFrança, durante a entrevista, bebe uma dose de café a cada 14 minutos. Conta que é mais produtivo durante as madrugadas. No silêncio, sem interrupção
Caminha em cima de uma esteira escutando o álbum Five Leaves Left, de Nick Drake; fato inusitado, uma vez que a sonoridade do compositor inglês remete à introspecção, algo radicalmente diferente das músicas alegres que, em geral, estão associadas à prática de exercícios físicos. Na realidade, França gosta, e precisa, de estímulo musical. “Me faz bem.” Durante a alfabetização, já gostava mais da aula de música do que a de educação física.
Quando tinha 7 anos, a sua mãe; Maria Inês; o matriculou em um curso preparatório para a Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP). França formou-se em Publicidade, mas nunca atuou na área. Fez aulas de violão com Waltel Branco e Mário da Silva. As unhas de sua mão direita são compridas, como as de quem costumeiramente dedilha cordas de aço e nylon.
França tem um sorriso quase contínuo no rosto, mas a expressão não é sinônimo de alegria permanente. Ri, por exemplo, ao não entender por que o repórter da Gazeta do Povo pergunta a respeito de seu prato predileto. “Massa e carne”, responde, entre uma gargalhada e um franzir de cenho. Ri, também, diante de perguntas aparentemente sem objetivo, por exemplo: Qual a sua altura? “1,78 metro.” Qual o seu peso? “75 quilos.” Pretende sair do apartamento dos pais e morar sozinho? “Mas eu me dou bem com eles”, diz, com alguma convicção.
Ele acredita em karma, em lei de causa e efeito. “Tudo o que você faz, um dia volta pra você.”
Estranha que o repórter não tenha anotado nada no primeiro encontro, que aconteceu no Lucca Café, no Batel. E fica curioso ao ver as muitas anotações em bloco de papel durante o segundo encontro, dias depois, no Paço da Liberdade, no Centro.
O artista curitibano, também autor de dois livros de poesia, conta que amadureceu muito a partir do momento em que começou a conviver com profissionais mais experientes, como a atriz Claudete Pereira Jorge, de 55 anos, e o maestro e diretor de teatro Octávio Camargo, de 42. “Aprendi, mesmo de maneira indireta, que não preciso dar ‘carteirada’ e me exibir, exageradamente (como artista). Também passei a escutar e a respeitar mais o próximo.”
França cofia a barba com a mão esquerda, sorri e pede mais um café. “Gosto de temperatura amena, nem frio, nem calor. A temperatura de Curitiba está incrível, não é mesmo?”, pergunta, antes de se despedir. Sorri, com a boca; e com os olhos.
Saiba quais são as obras de Alexandre França
Livros de poesia
Mata-Borrão, Batom (2003) e Toda Mulher Merece Ser Despida (2005).
CDs
A Solidão Não Mata, Dá a Ideia (2006) e Música de Apartamento (2009).
Textos de teatro já encenados
Um Idiota de Presente (2006), Final do Mês (2007) e Habitués (2008).
Internet
Ele mantém o site alexandrefranca.com.br e o blog alexandrefranca.blogspot.com.
Para o Blog do Caderno G, França apresentou uma definição sobre a capital paranaense:
“Curitiba é uma rinite que tentamos, a todo custo, curar entre edredons e livros do Dostoiévski.”
A culpa
Quem nos ameaça?
O que nos atingiu?
O nosso medo mata?
O que nos torna frios?
Calculando a morte
Nas ruas do Brasil
A arma faz da sorte
Um tiro no vazio
Qual cristo morrerá por nós?
Qual cristo morrerá em cena?
A tv ainda acha
Que valemos tanto a pena
E nos protege
De toda a culpa do mundo
Quem poderia admitir
Qual coragem nos faria admitir
A culpa toda do mundo?
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Canção nova. Nova fase. Novo assunto.
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Serviço
Música de Apartamento – Alexandre França. Teatro Paiol (Lgo. Guido Viaro, s/nº – Prado Velho), (41) 3213-1340. Hoje e amanhã, às 21 horas. Ingresso: R$ 15 (com CD), R$ 10 e R$ 7 (estudantes).
Choro Suicida
(Octávio Camargo e Alexandre França)
Nem toda história de amor acaba em morte, mas
Em Curitiba estes números assustam, pois
Quando o inverno chega por aqui
Os suicidas de amor se multiplicam por dois
Mais um poeta da dor se joga fora do bar
Onde a garoa cai guardando suas palavras
No piso de pedra do Alto da Glória para
Toda a boemia abraçada rir cantando
Nem toda história de amor acaba em morte, mas
Em Curitiba estes números assustam, pois
Quando o inverno chega por aqui
Os suicidas de amor se multiplicam por dois
Esta doença de amor não tem remédio, porém
Em Curitiba no inverno os bares enchem mais
De gente fria esquentando com cachaça
Um desejo que no fundo só faz bem de mais
eu mesmo largo mão de tanta hipocrisia
dançando com as mocinhas da cidade
que eu não dava valor
em cada esquina mais um santo se agita
ao ler a missa que Dionísio saberia de cor
na rua o tom de cinza tenta dar um clima
avermelhado pro curitibano se despir do pudor
e a chuva deixa dentro um fogo um cataclisma
pulsando um outro sentimento que nos dá calor
é a polaca do Batel deixando a boca sorrir
falando alto, sem vergonha, pro comboio ouvir
que o esporro vai continuar na sua casa
outra casa cabisbaixa para farra enfeitar
com cores novas a fachada desbotada
cheia de lambrequins
um vinho campo largo pinta os dentes de um infeliz
que agora fala pelos cotovelos que não doem tanto
quanto antes numa época em que o amor doía como
aneurisma ou pontadas na barriga, o amor era uma briga
que batia um coração desajustado, tão cansado de sofrer
por opção
Nem toda história de amor acaba em morte, mas
Em Curitiba estes números assustam, pois
Quando o inverno chega por aqui
Os suicidas de amor se multiplicam por dois
Mas toda noite do mundo que se preze também
Possui no fundo da gaveta um suicida bem do tipo
Que não liga tanto para a vida, mas
Que para morte nunca deu a mínima.